segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

El Chalten


Era manhã do dia 6 de janeiro, um domingão que prometia ser de sol, e já estávamos na rodoviária p/ pegar um ônibus para El Chalten. A grande expectativa par ver paisagens totalmente incomuns foi dando espaço a visão de um imenso planalto de plantas rasteiras em meio a muita areia e pedras. O dia ainda era claro e ensolarado, mas com a aproximação da cidade ao mesmo tempo em que surgiam ao fundo grandes cerros o tempo também mudava rapidamente. Logo ao chegar fomos recebidos na entrada da cidade por um guarda parques, que nos deu várias dicas sobre treking, sobre as trilhas, e principalmente sobre as rápidas variações climáticas, coisa que pudemos comprovar na pele.

A cidade de El Chalten é minúscula e nos dias que estivemos por ali fomos impiedosamente castigados por um vento gelado e muita garoa cuja umidade parecia se infiltrar pelos poros do corpo até atingir os ossos, e tudo isto acontecendo em pleno verão. Nosso tempo na cidade era curto então tínhamos de aproveitar cada minuto com toda sabedoria. Rapidamente preparamos mochilas e agasalhos p/ uma caminhada que deveria durar 4 horas rumo a Laguna e Glaciar Torre. Não tenho certeza mas penso que foram muito mais de 4 horas de caminhada debaixo de sol, chuva, vento, calor, garoa, frio, enfim todas as possibilidades climáticas variando sucessivamente.

Ao chegar vimos uma grande quantidade de gelo incrustada nas bases de um punhado de montanhas e rodeado por um grande lago onde pedaços de gelo flutuavam para formar uma paisagem desoladora, mas ao mesmo tempo hipnótica. Busquei um outro ângulo para ver tudo aquilo mais de perto, mas estava cansado e era tarde o bastante para começar a se preocupar em percorrer o caminho de volta antes de a noite chegar. E assim fiquei ali, por algum tempo olhando para aquilo tudo e imaginando o quanto aquela paisagem deveria mudar no decorrer de um ano. Pensava em como deveria ser o inverno, as nevascas, o inicio do degelo, e principalmente como deveria ser a vida naquele ambiente tão hostil. A paisagem era viva e estava em movimento constante, bem diferente das singelas paisagens tropicais pintadas em tantos quadros. Nosso planeta esta realmente vivo e nós somos apenas mais uma espécie entre tantas mas com uma incrivel capacidade de destruir quase tudo por onde passa graças a sua arrogância. É difícil acreditar que nosso destino como espécie será diferente da dos dinossauros.

No dia seguinte foi tempo de provar nosso entusiasmo e resistência no que se tornou um longo e molhado dia de caminhada. Acordamos cedinho e seguimos rumo a Laguna Piedras Brancas subindo por uma trilha de onde se podia ver a cidade toda rodeada por rios, lagos e cercada por altas montanhas que formam um imenso corredor de vento. Em alguns pontos desta trilha era muito difícil se equilibrar dada a força do vento.

Caminhamos até a Laguna Capri, onde já começamos a perceber que o tempo ia mudar. Talvez por conta disto a visão já era prejudica e pouca coisa legal se podia ver. Seguimos firmes em direção ao Cerro Fitz Roy mas quando estávamos nas proximidades do camping Poincenot a coisa piorou. Uma forte chuva começou a cair e mesmo com todos os acessórios p/ chuva a sensação que sentíamos não era nada agradável. Resolvemos nos abrigar, comer alguma coisa enquanto torcíamos para ao menos a intensidade da chuva diminuir, mas se abrigar onde? Tentamos nos proteger debaixo das arvores, mas isto não ajudava muito. Em pé, debaixo de um tronco inclinado de uma arvore minha mulher e eu dividimos um sanduíche de salame com queijo numa refeição muito rápida p/ não ensopar totalmente o sanduíche. Terminado o almoço prevaleceu a vontade do mais amigo mais teimoso e valente e seguimos todos debaixo de chuva rumo ao Glaciar Piedras Blancas. Depois de mais uma hora de caminhada debaixo de chuva desistimos porque a chuva não passava e estávamos totalmente desorientados em trilhas que já pareciam nos levar a lugar algum. Infelizmente não nos foi concedido o privilégio de avistar a grande vedete: Mr. Fitz Roy.

No dia seguinte, o sol brilhava mas o vento era ainda mais frio e mais forte, e ainda estávamos todos cansados e bastante mal humorados com o fracasso do dia anterior, então decidimos abrir mão da caminhada no último dia de El Chanten. Para mim isto foi muito frustrante, mas por outro lado foi ótimo passar o dia seco, abrigado do frio e bebendo vinho na companhia dos amigos.

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