terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Torres Del Paine – 3o dia – de Los Cuenos até Paine Grande

Na manhã do dia 12 de janeiro tomamos nosso café da manhã, e depois deste tivemos de aguardar por quase uma hora dentro da barraca até que a forte garoa e o vento dessem uma trégua para podermos então desarmamos as barracas. Por volta de 9h30 já estávamos com as mochilas nas costas a caminho do Camping Italiano.

Neste dia a trilha nos parecia ainda mais desafiadora e cheia de subidas, somado ao fato de que estávamos preocupados em conseguir chegar ao refúgio PAINE GRANDE antes do anoitecer. Já tínhamos percebido neste ponto que nosso ritmo era lento demais para conseguir cumprir as previsões contidas em todos os mapas e placas que consultávamos. Para cada hora de caminhada prevista no mapa gastávamos em torno de 1h20. Não sei se isto se deve a falta de preparo físico de todos ou simplesmente pelas constantes paradas p/ tirar fotos e apreciar a paisagem, mas confesso que em determinados pontos a beleza era tenta que eu me recusava a acelerar o passo porque não queria deixar tudo aquilo p/ traz. Então no nosso ritmo seguimos em frente, e já nas proximidades do camping ITALIANO minha mulher confidenciou seus planos para fazer uma parada p/ o almoço, comer uma boa massa e só depois retomar a trilha. Pobre coitada, mal sabia o que a esperava no camping ITALIANO.

Chegamos ao camping Italiano lá pelas 13h30, todos procurando por um canto qualquer para jogar as mochilas e se esparramar. Como uma cidade que é construída na beira da estrada, as barracas do camping ITALIANO são armadas bem na beirada da trilha que passa bem pelo meio do camping. Toda área é bem protegida por grandes arvores, e no centro a casa dos guarda parques parece impor certo respeito ao local. Ao lado do guarda parques uma pequena cobertura sobre o chão de terra e vários tocos de madeira é utilizada por alguns como área de refeições, e bem ao lado uma placo solicita aos campista que enterrem suas fezes assim como os gatos. Então dá para notas que as condições deste camping são precárias, mas quem fica por ali não esta nada preocupado com isto.

Ao lado deste camping um grande rio faz um enorme barulho devido ao grande volume de água que traz do glaciar Francês. Tratei de encher nossas garrafas com água do rio enquanto minha mão quase congelava, e depois constatei na garrafa que a coloração da água era meio leitosa, mas ao beber e seu sabor era de água mineral. Uma pequena ponte atravessa sobre este rio e bem ao meio da ponte se pode ver Glaciar Francês em meio a várias montanhas. Foi uma visão fantástica olhar para cima para ver uma grande glaciar entre várias montanhas e cercado por muita neve enquanto tapava os olhos do sol para poder enxergar. Ah, como eu queria seguir aquela trilha em direção ao glaciar e deixar de lado todo o resto do meu roteiro de férias, como também esquecer do dia de voltar ao trabalho. Acho que me senti como o Ulisses quando estava amarrado ao navio para não se jogar ao mar em busca das sereias.

Seguindo pela trilha, alguns minutos depois vireime para trás e pude ver as Torres Del Paine e tive uma grande surpresa. As torres estavam totalmente descobertas de nuvens e totalmente iluminadas pela luz do sol, o que lhe dava uma coloração marrom claro muito incomum. Do ângulo que eu olhava tinha-se a impressão de que aquela imensa torre não passava de uma rocha única que se ergue do chão até um pouco mais de 2000 mt. Que visão! Depois disto ficou ainda mais difícil dar as costas e seguir a caminhada.

Na medida em que avançamos a trilha ficava cada vez mais fácil, cheio de pontes sobre as áreas de brejo até o ponto de passar por alguns trabalhadores que aparavam o mato ao redor da trilha (imaginem que absurdo!). Assim como a trilha se tornava cada vez mais fácil, o perfil do pessoal que encontrávamos pela trilha também mudava. As pessoas estavam mais produzidos com roupas de grife combinando e até algumas mulheres muito perfumadas no meio de todo aquele mato, isto dava um nó em na minha cabeça. Até muito pouco tempo atrás todos que encontrávamos pelas trilhas pareciam completamente envolvidos com a clima zen e alternativo do lugar, enquanto que agora estávamos na direção de turistas arrumados e equipados com toda parafernália tecnológica que viram nos anúncios da TV ou das incríveis revistas de aventura disponíveis em todas as bancas de jornal mais decoladas. Aquilo para mim era um grande choque, pois acho que no fundo eu temia ser mais um daqueles babacas materialistas apegado aos confortos do homem moderno, o que eu queria mesmo era ser da turma que dorme no meio do mato, e que passa fome e frio só pelo simples prazer de poder ver um magnífico por do sol sobre as Torres Del Paine ou uma revoada de pássaros sobre o lago NORDENSKJOLD. Mas meu destino estava bem na minha frente e isto eu não podia negar.

Cada vez mais próximos da civilização marchamos em sua direção acelerando o passo o quanto fosse possível, pois o que tinha de melhor de toda aquela trilha parecia que já tinha ficado bem para traz. Chegou um momento que o tempo virou e a chuva começou a cair ao mesmo tempo em que eu me sentia completamente desorientado a respeito da distancia que já tinha percorrido e quanto ainda faltava para chegar ao refugio PAINE GRANDE, foi quando vi um pequeno grupo de garotas e preparei meu espanhol, inglês, portunhol, mímica, enfim o diabo que fosse preciso para conseguir alguma informação.

Então passaram por nós quatro lindas garotas, acho que tinham entre 15 e 17 anos, todas com mochilas enormes nas costas, acho que nenhuma mochila era menor que a minha, somado a um lindo sorriso no rosto de todas marchando decididas. Aquela cena me congelou e não consegui falar nada, fiquei olhando para elas enquanto passavam por mim e depois seguiam em direção ao centro do parque para o que deveria ser no mínimo 3 horas de caminhada para se chegar ao camping mais próximo (ITALIANO) no momento em que o sol já começava a se por e a chuva apertava. Me senti um grande “bundão”.

Apertamos o passo p/ fugir da chuva e conseguimos chegar ao refugio um pouco antes de nos encharcarmos. PAINE GRANDE não tem absolutamente nenhuma semelhança com os outros refúgios por onde passamos, tem no centro uma grande construção que abriga refeitório, bar, loja de conveniências, quartos (em que se alugam camas) e ao fundo uma grande área de camping. Tudo muito bonito e bem arrumado, mas repleto de turistas estúpidos e mal educados, de todos os lugares do mundo. Os funcionários também não ficam atrás, deixam muito claro o tempo todo que não gostam de estar ali, e que tudo que fazem é para cumprir ordens. Que lugar horrível! Acho que PAINE GRANDE é sem duvida o pior de Torres Del Paine.

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